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  • Mariana Schuchovski

2021: UM ANO NOVO PARA A SUSTENTABILIDADE?

Atualizado: 7 de abr. de 2021

Com certeza você já viu e se entristeceu com as tantas imagens de animais marinhos enrolados em sacolas de plástico ou canudos, ou ainda presos em algum material plástico.


Na primeira semana deste ano, você deve ter visto um vídeo simplesmente chocante de ondas de plástico no mar da praia de São Conrado, Rio de Janeiro com uma quantidade absurda de garrafas e outros materiais plásticos (divulgado pela Route Brasil).


Dentre tantas notícias difíceis dos últimos tempos, a boa é que em São Paulo a Lei Municipal 17.261, de 13 de janeiro de 2020, entrou em vigor a partir do dia 1º. de Janeiro deste ano, proibindo a utilização de copos, pratos e talheres de plástico nos restaurantes e bares da cidade. Vale lembrar que apesar de existir a lei, ainda não há previsão legal para o descumprimento, portanto, multas e punições só podem ser aplicadas após regulamentação, que ainda não foi feita.


Se você está pensando: “Ufa, maravilha, resolvemos o problema da poluição plástica nos mares e oceanos”, infelizmente você está muito enganado(a).

Você sabia que:

  • O Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, produzindo 11 milhões de toneladas de lixo plástico por ano e reciclando apenas 1% (WWF, 2019).

  • Durante a pandemia, o consumo de plásticos explodiu no Brasil, principalmente devido ao crescimento do delivery de alimentos e do comércio eletrônico, além do maior uso de material hospitalar descartável como máscaras e luvas (BBC, 2020).

  • No relatório “Um oceano livre de plástico: desafios para reduzir a poluição marinha no Brasil” produzido pela Oceana em 2020, a contribuição nacional para a poluição marinha por plásticos é de 325 mil toneladas por ano. E um em cada 10 animais que ingeriram plástico morreram, sendo que várias destas espécies são ameaçadas de extinção.

  • No mundo, os oceanos recebem a descarga de um caminhão de lixo por minuto. Todos os anos, o mar recebe 13 milhões de toneladas de plástico (PNUMA, citado por Voz dos Oceanos).

  • O relatório “Rethinking the future of plastics” da Fundação Ellen MacArthur (2016) enfatiza que a maioria das embalagens de plástico é usada apenas uma vez, sendo que 95% do valor do material de embalagem de plástico, avaliado em US$ 80-120 bilhões por ano, é perdido. Embalagens plásticas geram externalidades negativas, avaliadas pelo PNUMA em US$40 bilhões. E, ainda, se continuarmos com o modelo de produção e consumo atual, no chamado ‘business as usual’, em 2050 haverá mais plásticos (em peso) do que peixes no oceano.

Já é senso comum que a grande presença dos plásticos no oceano é um problema. Mas, além disto, estudos demonstraram também a grande problemática dos microplásticos, partículas que medem entre 10 e 100 micrômetros - para você ter ideia, esta última medida é equivalente a espessura de dois fios de cabelo.


No mundo inteiro, estima-se que existam 14 milhões de toneladas de plástico no fundo dos oceanos, pois o plástico jogado nos mares acaba se deteriorando e se transformando em microplásticos, que vão parar nas profundezas do mar — a quantidade chega a ser o dobro do que é encontrado na superfície (CSIRO's Oceans and Atmosphere, citado por Folha de São Paulo, 2020).


A revista científica Nature Communications publicou um estudo que revela que nos 200 metros de águas superficiais do Atlântico, que representam somente 5,3% do volume deste oceano, podem ser encontradas entre 11 e 21 milhões de toneladas de microplásticos.


Considerando-se que o plástico leva cerca de 400 anos para se decompor e, na maior parte das vezes, passa alguns poucos segundos, minutos na nossa mão, é preciso rever as nossas “necessidades” (sim, entre aspas, pois são apenas aparente comodidade), como copos, canudos, garrafas e talheres de plásticos ditos descartáveis. Descartáveis? Onde iremos descartá-los? Não existe FORA, não jogaremos nada fora deste planeta.

Sim, o plástico é um material reciclável, mas somente cerca de 3% do plástico produzido é efetivamente reciclado - sendo esse percentual bastante otimista. E, ainda, o plástico é um polímero de origem fóssil, subproduto do petróleo e, portanto, emite gases de efeito estufa no seu processo produtivo e decomposição - que, como falei acima, leva 400 anos.


Nosso modelo de produção e consumo atual é responsável por tudo isso. Temos urgência de rever nossos hábitos de consumo, destinação e descarte. As nossas escolhas farão muita diferença.


Se você não estiver em São Paulo e for a algum restaurante ou bar que tem o costume de usar copos, pratos e talheres de plástico, que tal levar;


  • seu copo (eu tenho dois, um da Meu Copo Eco e outro da Beegreen, marcas que adoro e que têm várias opções de produtos sustentáveis para o dia a dia);

  • seu canudo reutilizável (tenho quatro, um para cada membro da minha família);

  • seus talheres de casa (eu sei, esse pode ser mais complicado e difícil, mas não é impossível);

  • sua água de casa, na sua garrafa reutilizável.

Eu poderia continuar esta lista com muitas dicas e atitudes importantes para contribuir com hábitos mais sustentáveis e minimizar o cenário atual. Pois, mesmo pequeno, cada esforço individual vale a pena e tem grande significado.


Mas com certeza isso não seria suficiente, porque muito mais do que do esforço individual, precisamos do esforço coletivo.


É inadmissível que em um momento da humanidade em que temos carros autônomos, drones, bancos digitais, 5G, e-commerce, inteligência artificial e demais inovações, indústrias colossais de bens de consumo que faturam bilhões de dólares por ano continuem produzindo embalagens plásticas sem demonstrar o esforço necessário em desenvolver uma cadeia produtiva com embalagens totalmente sustentáveis.

E além disto, a maioria delas nem ao menos se responsabiliza pela Logística Reversa como prevista em Lei.


Precisamos de políticas públicas fortes e restritivas com relação a produtos cujos resíduos causem poluição, como os plásticos de uso único. Mais do que isso, precisamos de empresas engajadas com a causa não só de retirar o plástico do oceano (que é sem dúvidas uma iniciativa sempre bem-vinda, com a realizada pela Positiv.a, pela Onda Eco e pela Adidas, citando apenas algumas), mas de propor soluções diferenciadas para a produção de embalagens de matérias-primas de fontes renováveis e sustentáveis não derivadas do petróleo, como cana de açúcar e mandioca, por exemplo.

Ressalto aqui o papel crucial da indústria em buscar alternativas para reduzir o uso e o consumo do plástico, estimulando a criação de novos nichos de economia e, até novas cadeias produtivas.


A responsabilidade social e a sustentabilidade corporativa praticada pelas empresas precisa evoluir da simples ação de retirada do canudo plástico de sua linha de bebidas para um compromisso verdadeiro, de longo prazo e proporcional ao seu impacto.

Porque isto não é sustentabilidade, é só outra coisa.


Mariana Schuchovski é Fundadora da Verde Floresta, Consultoria em Sustentabilidade e Negócios de Impacto, PhD pela UFPR e NCState e Professora Convidada na FGV, ISAE, UFPR e SENAI em cursos de pós-graduação.



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